quinta-feira, 28 de outubro de 2010

V

Vai-se dissipando a minha ansiedade.
Ao meu redor, todo um cenário de grandiosidade me envolve.
(...)
Ouço a minha respiração sentida e profunda.
Esperam-me os sonhos!

in 17º Andar, Joana Castro

quarta-feira, 22 de setembro de 2010


O Único Mistério do Universo é o Mais e não o Menos


No dia brancamente nublado entristeço quase a medo
E ponho-me a meditar nos problemas que finjo...

Se o homem fosse, como deveria ser,
Não um animal doente, mas o mais perfeito dos animais,
Animal directo e não indirecto,
Devia ser outra a sua forma de encontrar um sentido às coisas,
Outra e verdadeira.
Devia haver adquirido um sentido do «conjunto»;
Um sentido, como ver e ouvir, do «total» das coisas
E não, como temos, um pensamento do «conjunto»;
E não, como temos, uma ideia do «total» das coisas.
E assim - veríamos - não teríamos noção de conjunto ou de total,
Porque o sentido de «total» ou de «conjunto» não seria de um «total» ou de um «conjunto»
Mas da verdadeira Natureza talvez nem todo nem partes.

O único mistério do Universo é o mais e não o menos.
Percebemos demais as coisas - eis o erro e a dúvida.
O que existe transcende para baixo o que julgamos que existe.
A Realidade é apenas real e não pensada.
O Universo não é uma ideia minha.
A minha ideia do Universo é que é uma ideia minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos.
A minha ideia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.

Assim como falham as palavras quando queremos exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando queremos pensar qualquer realidade.
Mas, como a essência do pensamento não é ser dita, mas ser pensada,
Assim é a essência da realidade o existir, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.

O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo.

Estas verdades não são perfeitas porque são ditas,
E antes de ditas, pensadas:
Mas no fundo o que está certo é elas negarem-se a si próprias
Na negação oposta de afirmarem qualquer coisa.
A única afirmação é ser.
E ser o oposto é o que não queria de mim...

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

segunda-feira, 16 de agosto de 2010


L Burro i L Gaiteiro 2010

Fantástico retiro por terras do Planalto Mirandês.
Um cruzar de pessoas com diversos interesses e oriundas dos mais variados lugares do país, mas com o interesse comum na preservação do gado asinino e da música tradicional.
Uma experiência marcante, onde as raízes vêm à flor da pele, onde jovens se misturam com velhos de uma forma quase indefinida e as idades e aspectos não importam. Apenas a energia e a simbiose de conhecimentos e simpatias que se vão cruzando. Pessoas e Lugares que ficam na memória e no coração...

quarta-feira, 30 de junho de 2010



VI


Procuro o vazio.
Afastar a razão e o desejo
desta minha forma de viver.
Unem-se os sentidos na tentativa
de encontrar algo
para além da compreensão.

domingo, 27 de junho de 2010

Cruzam-se caminhos.
Linhas que se vão emaranhando em teias que nos sustentam.
Seguimos em frente apenas com a preocupação de sentir a respiração.
A nossa pequenez reflecte-se nos aranhiços que se vão passeando à nossa volta.
Invade-nos o pânico, a curiosidade.
Somos alimento, somos indiferentes.

Pelos finos fios vamos caminhando à procura.

Almofadas de linho acariciam os nossos pés.
Libertam-nos no descanso da indecisão do palmilhar...

Queremos continuar,
Mas sufocamos com todas as palavras que não conseguimos dizer.

Respiramos fundo.
O ar fresco desperta os sentidos.
Seguimos para o Mundo.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Justiça











"Che Guevara"


Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes
e o arrojo dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra
De poster em poster a tua imagem paira na sociedade
de consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado
das igrejas

Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

quinta-feira, 10 de junho de 2010












"Mariana", Millais








"Confundem-se os dias no sono perdido.
Perdi a noção do tempo, fruto do meu lamento às folhas maduras que se deixam cair."

Joana Castro

segunda-feira, 7 de junho de 2010


" O silêncio invade o espaço circundante.
Sou apenas um elo da imensidão a que pertenço.
A paz, que me percorre, devolve-me o sono....."

Joana Castro

domingo, 6 de junho de 2010

Universos


O início e o fim não existem. Podemos estar no meio ou do lado poente do carreiro.. O ciclo que fazemos parte é muitas vezes sinuoso, mas abre-nos portas para outros lugares e dimensões que com ele se cruzam ou caminham a lado a lado. Este será um espaço assim. Pequenos hiatos retirados desses caminhos, dessas osmoses de cruzamentos, explanadas e partilhadas neste espaço esfumado e irreal mas, ponto de encontro de uma imensidão de linhas e energias que por aqui circulam. Que essa energia seja o que o sonho comandar. Jancsi