Curvas
"Nas curvas que fazem o caminho lanço
os meus pensamentos ao vento
e segredo à natureza as dúvidas
que me assolam o coração.
Já é tarde.
Mas para alguns já é bastante cedo.
Engraçado como o tempo,
(que segundo os mais letrados até nem existe)
pode ser tão subjectivo.
E com esta do tempo também dou por mim
a distrair-me com os ramos que vão
ornamentando o caminho e criando alguns
ruídos por baixo do clássico.
É o grito do motor, o tempo dizendo
ao tempo que se fez um temporal e que já
é tempo de me despachar a tempo.
"Mas isto não traz sentido algum ao momento!"
Digo eu já em delírio falando com os Anjos
que me vão acompanhando.
Começo a não resistir ao cansaço.
Os olhos pesam e por lapsos retirados
a outras vidas adormeço acordada.
Vivo momentos que não vivi
ou que sinto já ter vivido.
Falo com quem nunca conheci
mas que por momentos já ouvi.
(Aprendi a gostar de ti...)
Procuro respostas.
Foco a estrada,
deixo-me levar .
Tudo parece uma eternidade,
ou até segundo um Einstein
uma fracção de uma onda de luz
que cruzou o vácuo para iluminar
o caminho que trilho
através dos faróis redondos.
"É um clássico!"
Este turbilhão de sensações
deixam-me embriagada
mas despertam-me do meu sono
latejante que acorda e
sossega o coração.
Nada é nada,
tudo é tudo,
mas tudo é nada,
e o nada também é tempo
que se faz tarde e que se faz nada
quando nada fazemos dele!
"Este atalho parece nunca mais acabar!"
O vento sossega,
A estrela mais vagabunda da noite vai descansar.
O pano negro começa a clarear.
Já não penso em nada,
mas nada também é tudo,
e tudo pode ser o tempo,
como o foi esta noite.
(...)
Já não preciso dos faróis.
A primeira aurora vai surgindo.
Desligo o carro.
Abro a porta e fecho os olhos..."
Joana